“A psicanálise é a elaboração da posição depressiva de Freud” – Didier Anzieu

Neste livro publicado pela editora Pearson, um dos muitos da coleção clínica psicanalítica, Daniel Delouya se põe a examinar a Depressão na história da Psicanálise. Interessante notar, desde já, como ressalta o próprio autor, que Freud se interessava plenamente pelo fenômeno depressivo durante sua autoanalise mesmo antes de A interpretação do sonhos, conforme registrado nas cartas ao Fliess, no início do sec XX se dedicou mais ao estudo das psiconeuroses (abandonando por um tempo a ênfase nas pesquisas sobre economias libidinais), voltou a discuti-la em Luto e melancolia e posteriormente ganhou valor e força com Além do principio do prazer.

Através de uma ênfase freudiana, Delouya nos mostra como o conceito foi sendo delimitado no interior da psicanálise ao longo da história para tecer críticas e construir novas formas de pensar a partir de ilustrações clínicas, tentando superar o hiato entre teoria e pratica.

No primeiro capitulo o autor vai problematizar o lugar da depressão na história da psicanálise a diferenciando de outros campos de saber e tendências de pesquisa contemporâneas com demarcadores biológicos. O autor ressalta a importância da sua compreensão para evitar desentendimentos clínicos e constantes confusões com quadros psicossomáticos e a própria definição de melancolia.

Algumas definições de Depressão encontradas:

-Estados mentais que nos são tão familiares

-Estado afetivo que priva o humano de ser, “congelamento subjetivo”

-Experiência emocional dolorosa

-Abatimento maciço

-Fechamento mórbido do tempo e espaço

-Impotência no plano da ação, do pensar e do sonhar

-Um caráter econômico que suprime e comprime, subtrai e suga algo do sentido de viver, do representável.

-Estado de estar pressionado para baixo (pg 21)

-Economia de morte, voltada para o desaparecimento de si (pg 21)

-Drenagem de combustível psíquico (pg 22)

-Doença afetiva ou distúrbio de humor, conforme os padrões psiquiátricos (pg 27)

-Deficiências enzimáticas e alterações genéticas que afetam a produção e regulação de neurotransmissores

Mas a depressão é uma patologia?

Não nos moldes dos compêndios psiquiátricos para a Psicanálise. Confunde-se com conceitos de angustia e melancolia, outras formas de sofrimento da alma; fenômenos que dizem respeito às dimensões enérgicas, da economia pulsional e sensória, e sua contenção entre outras feições mais gerais, talvez mais primitivas, do aparelho psíquico. Em verdade, é uma privação temporária de afetos (fundamentais para o viver humano)

Uma categoria patológica a parte ou sintomatologia presente nas grandes estruturas consagradas da psicanálise?

Para Delouya, a psicanálise nunca se comprometeu com uma nosografia definida (pg 16). Os quadros clínicos são apenas pontos de partida para compreensão das engrenagens do aparelho psíquico (ao menos em Freud. Não são entendidas como presenças concretas, organizadas e constatáveis de organizações psicopatológicas.

As categorias descritas por Freud se relacionam ao complexo de castração, recalcado o neurótico, recusada no perverso e rejeitada no psicótico. Configuram-se por estruturas de sentido (não um conjunto sintomático) -à recalque, recusa e rejeição são mecanismos e processos capitais da constituição psíquica do sujeito

A depressão foi associada aos casos limite (borderline) nos anos 50. Mais recentemente às neuroses atuais ao grupo das psicopatologias psicossomáticas, economia libidinal (energia sexual). Já a melancolia foi definida como uma neurose narcísica a partir de 1923.

Com o tempo houve um grande desgaste na arte semiológica do fazer clínico, uma vez que o diagnóstico e a estratégia de tratamento derivam de testes e exames feitos em laboratórios. Frutos de pesquisa biológica. (pg 17)

Na próxima parte, daremos continuidade a esse resumo, descrevendo o segundo capítulo “O eixo narcísico das depressões”

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