O desejo insatisfeito na histérica é muito recorrente, já que tudo o que ela não quer é deparar-se com a falta, e o medo de vivenciar a possibilidade de um gozo pleno, uma satisfação absoluta, que a destruiria enquanto sujeito. O histérico transforma a realidade em fantasia e erotiza tudo a sua volta, erotiza não na questão de coito, do ato sexual em si, nem relaciona com pornografia, mas os gestos dos outros são interpretados pela histérica como sexuais, voltados à erotização, e a masturbação. Assim, ao oferecer-se ao outro nunca é pensando na relação sexual, pois isto raramente acontece; geralmente a relação sexual é encarada pela histérica como nojo, e Freud já dizia, que em casos de mulheres que manifestam nojo da relação sexual pode afirmar tratar-se de histeria.

Nasio (1991, p. 17) descreve que na estrutura histérica não a há a percepção dos objetos internos e externos da forma como costumeiramente é percebido, mas há a transformação da realidade pela fantasia, e define a histericização como, “erotizar uma expressão humana, seja ela qual for, embora para si só, intimamente, ela não seja de natureza sexual – das quais não necessariamente tem consciência –, de qualquer gesto, qualquer palavra ou qualquer silêncio que perceba no outro ou que dirija ao outro”.

As questões problemáticas histéricas estão intimamente relacionadas com a via da insatisfação, já que satisfazer- se pode ser considerado um passo para a morte, enquanto ser, conforme demonstrado no excerto: “o problema histérico é, antes de mais nada, seu medo, um medo profundo e decisivo, jamais sentido, mas atuando em todos os níveis de seu ser; um medo concentrado num único perigo: o fato de gozar” (Nasio, 1991)

Na histeria vai se buscar constantemente a conquista do falo, a reivindicação do mesmo, pois julga que foi injustamente privada de tê-lo. Conforme explicita Dor (1991,p. 69) Se, fundamentalmente, o objeto do desejo edipiano, o falo, é aquilo de que o histérico se sente injustamente privado, ele não pode delegar a questão de seu desejo a não ser àquele que é suposto tê-lo. Neste sentido, o histérico não interroga a dinâmica de seu desejo senão junto ao Outro, que é sempre suposto deter a resposta ao enigma da origem e do processo do desejo em questão. Em outras palavras, ele se anula para realizar o desejo do Outro e sempre colocar-se a serviço deste, assim como defender as ideias do Outro, por entender que este possui algo a mais e se engaja á esse “sacrifício”, “abdicar alguma coisa de seu próprio desejo em benefício de um outro”. O que na verdade, é uma via para manter seu desejo insatisfeito, pois satisfazê-lo é aceitar não ter o falo, e não poder possuí-lo é se defrontar com a castração.

Dor (1991, p. 72) acrescenta que, […] o histérico se viu frequentemente como não tendo sido amado o bastante pelo Outro, como não tendo recebido todas as provas de amor esperadas da mãe. Esta frustração de amor inscreve-se sempre em referência ao jogo fálico. O histérico investe-se assim, nesta frustração, como um objeto desvalorizado e incompleto, ou seja, como um objeto derrisório para o desejo da mãe face ao que poderia ser, pelo contrário, um objeto completo e ideal: o falo.

A histérica deixa o corpo a mercê do imperativo da perfeição estética como condição fundamental para ser feliz”, de modo que adia a felicidade e a satisfação, já que tal perfeição é jamais alcançada, é apenas um meio para a manutenção da insatisfação.

Referências Bibliográficas

NASIO JD. A histeria: teoria e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Zahar, 1991.

DOR, J. Estruturas e clínica psicanalítica. Rio de Janeiro: Taurus Editora, 1991.

Deixe um comentário

Tendência