” Encontramos na histeria, entre outros projetos, o projeto de “tornar-se uma outra”. “Ser uma outra”, nesse caso, é estar em outro lugar, idealizar o príncipe encantado, viver no mundo que sempre parece tão perfeito dos salões da corte.

Na histeria, o bordado fantasmático parece, na maior parte das vezes, excessivo, barroco demais, tem muita renda, muito ponto festonê, muito crivo. É assim que aparece para Dora o mundo maravilhoso de Mme K., assim é também o mundo sonhado por Mme Bovary.1 O projeto de ser uma outra é, nesses casos, muito elaborado e cultivado com carinho. A vida só parece ser possível se a ilusão ganhar todas as cores.

Os enredos se fazem todos na mesma maneira: um homem cobiçado, uma mulher ingênua e sofredora, um vilão e uma vítima. A felicidade está sempre em outro lugar, numa outra festa, em outra cidade, outra família, com outro marido e assim vai… O bordão poderia ser, sem problemas, esse: “Há em algum lugar do planeta uma mulher mais feliz que eu e ser esta mulher é ter tudo, é ter toda a felicidade do mundo!” Há um detalhe fundamental nesta postulação. Esse bordão é algo que a histérica sabe que pode ser falso, que está ali só alinhavando um tecido imaginário que ela considera imprescindível para viver, ele dá a ela o sonho de um dia banir todo o sofrimento e ao mesmo tempo garante, no presente, a estética da mulher que sofre por não ter aquilo que ela imagina que uma outra mulher pode ter.

A composição da fantasia histérica comporta sempre mais de um personagem e seu objetivo é ter a ilusão de que é possível ter acesso à subjetividade de todos os integrantes da cena fantasmática, ou seja, o que move o projeto da fantasia histérica é a ilusão, nesta montagem, de conhecer o desejo e aquilo que provoca o desejo, em cada um dos personagens.”

Teresa Pinheiro

Referência Bibliográfica

ARTIGO – Pinheiro, Teresa (2004) Tornar-se uma outra na histeria e ser uma outra do falso self. Rev. latinoam. psicopatol. fundam 7 (1)

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